Participantes do projeto Cozinha e Voz recebem certificado e devem ser inseridas no mercado
Iniciativa espelha um caso de atuação direta do MPT na vida de pessoas vulneráveis e que normalmente não recebem oportunidades de emprego
29/11/2018 - Emoção do começo ao fim e oportunidade de realização pessoal resumem a cerimônia de formatura das 19 mulheres que completaram o curso de expressão e de auxiliar de cozinha do projeto Cozinha e Voz. O evento aconteceu na tarde dessa quarta-feira (28), no Senac Gastronomia e Turismo em Campo Grande/MS, e contou com a participação da idealizadora do projeto, a chef Paola Carosella. Quatro participantes foram escolhidas para continuarem trabalhando no Senac e as restantes farão entrevistas de emprego para atuarem em bares e restaurantes da capital.
Antes da formatura, a chef Paola Carosella, o procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho (MPT) em Mato Grosso do Sul, Leontino Ferreira de Lima Junior, e a juíza coordenadora estadual da mulher em situação de violência doméstica e familiar de Mato Grosso do Sul, Jacqueline Machado, reuniram-se com empresários para explicar o projeto e sensibilizá-los para abrirem oportunidades de empregos.
Essa edição do projeto Cozinha e Voz teve como objetivo capacitar no ofício de assistente de cozinha mulheres vítimas de violência doméstica e aquelas egressas do sistema prisional. Vinte mulheres foram escolhidas e 19 concluíram o curso, que começou no dia 12 de novembro com uma oficina de poesia. Na segunda fase, elas entraram na cozinha do Senac e aprenderam técnicas básicas de gastronomia.
No começo da formatura, cada participante declamou um poema. Diversas poetas e poetisas foram lembradas, como Elisa Lucinda, Adélia Prado e Mário Quintana. Houve poema em espanhol e até na Língua indígena guarani-kaiowá. Um dos momentos mais emocionantes da cerimônia.
Segundo o procurador-chefe Leontino Lima Junior, a iniciativa espelha um caso de atuação direta do MPT na vida de pessoas vulneráveis e que normalmente não recebem oportunidades de emprego. “Com os demais parceiros do projeto possibilita-se a empregabilidade e descortina-se um novo mundo para as alunas que terão chance de saírem do círculo vicioso da violência”, observou.
Também presente à cerimônia de conclusão do curso, o diretor regional do Senac, Vitor Mello, destacou que foi um prazer para a instituição participar do projeto Cozinha e Voz. “Toda formatura é um momento importante, mas confesso que eu nunca tinha sentindo o que eu estou sentindo agora. A gente vê que a educação, junto com o amor, é capaz de transformar muitos problemas em solução”, disse o diretor.
A chef Paola fez questão de frisar para os empresários, que acompanharam a formatura, que aquelas mulheres precisam apenas de oportunidade de mostrarem o seu trabalho. “O projeto não é meu, leva a minha assinatura, mas não poderia existir sem os parceiros. Teria sido impossível fazer este projeto sem vocês, porque o público é de mulheres encarceradas e de vítimas de violência doméstica”, agradeceu.
Ainda para Paola, o projeto tem um viés social mas também se presta a melhorar a situação da mão de obra no ramo da gastronomia. “O projeto se propõe a qualificar mulheres no ramo da gastronomia que é um mercado que só cresce no Brasil. O curso é muito caro e as pessoas não têm recursos para se qualificarem. Nós nos propomos a trabalhar com os diversos públicos com vulnerabilidade social, mudando suas vidas e encaminhando para o mercado de trabalho”, disse.
A juíza Jacqueline Machado elogiou a turma do primeiro projeto Cozinha e Voz, por serem mulheres guerreiras. “Essa turma é incrível, porque vocês enfrentaram muitas barreiras, e eu sei o que é trabalhar com mulheres que todos os dias vivem oprimidas pela violência, vivem sem oportunidade. Queremos que as pessoas enxerguem vocês, porque vocês têm muito potencial. E eu acredito em vocês”, enfatizou.
O elogio só traz mais motivação para M. T. S., 32 anos, que está usando tornozeleira eletrônica porque cumpre pena. Ela conta que faz parte do grupo de pessoas invisíveis para a sociedade. “Eu nunca pensei na vida que eu iria participar deste projeto. Nós somos os que não são vistos na sociedade. Nós já erramos, sofremos violência e o que falta é oportunidade para sermos pessoas melhores e para não cometermos erros novamente. E foi isto que eu encontrei aqui”, disse emocionada.
Saiba mais
Em Mato Grosso do Sul, o projeto Cozinha e Voz é uma parceria do Ministério Público do Trabalho, do Tribunal de Justiça e da Organização Internacional do Trabalho, com o apoio do Senac Gastronomia e Turismo e da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes.
A Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande também contribuiu com essa iniciativa, proporcionando vagas temporárias em creches para os filhos das participantes do curso. Uma iniciativa que deu a possibilidade de as mulheres realizarem o curso com a segurança de que seus filhos estão bem cuidados.
Essa é a primeira vez que o curso se volta para mulheres em situação de violência doméstica, em cárcere e egressas do sistema prisional, pensando justamente na vulnerabilidade econômica e financeira, bem como na difícil (re)inserção no mercado de trabalho.
As aulas foram ministradas em novembro e a primeira atividade foi a oficina de poesia, em que as participantes trabalharam a oralidade e a expressão da linguagem por meio da poesia. A oficina foi apresentada por Elisa Lucinda, conhecida nacionalmente por seus trabalhos em novelas. Além de trabalhos na TV e no cinema, Lucinda se dedica também à literatura (especialmente à poesia), ao jornalismo e à música popular.
A outra vertente do projeto, que proporciona a empregabilidade, é o curso de assistente de cozinha, conduzido pela chef Paola Carosella, uma das juradas do Show de Talentos MasterChef Brasil. Nessa etapa, as mulheres tiveram oportunidade de conhecer e aperfeiçoar técnicas da culinária, com expectativa de ingressarem no mercado de trabalho ou apostarem no empreendedorismo.
Fonte: Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, com adaptações do Ministério Público do Trabalho
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