“Doenças do trabalho são evitáveis”

A afirmação é do médico psiquiatra Francisco Drumond, que ministrou palestra sobre saúde mental no trabalho durante evento do Fórum de Saúde, Segurança e Higiene no Trabalho, em Campo Grande

16/04/2015 – Durante palestra realizada na última terça-feira, 14 de abril, em Campo Grande sobre saúde mental no trabalho, o médico psiquiatra e coordenador de Saúde do Trabalhador da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, Francisco Drumond Marcondes de Moura Neto, destacou a importância do diagnóstico para prevenção dos agravos de saúde decorrentes do trabalho. O evento foi promovido pelo Ministério Público do Trabalho e pelo Fórum de Saúde, Segurança e Higiene no Trabalho no Mato Grosso do Sul no auditório da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), em Campo Grande.

O médico psiquiatra defende que é necessário realizar um diagnóstico situacional para elaborar proposta de intervenção de caráter preventivo das doenças do trabalho nas empresas: “o ponto inicial desse processo é elaborar um mapa de risco, sob a ótica dos trabalhadores, para levantamento dos riscos e cargas de trabalho”, destacou. A partir do mapa de risco é elaborado o plano para aumentar a qualidade de vida no trabalho como forma de prevenção: “doenças do trabalho são evitáveis”, afirmou o psiquiatra.

Foi seguindo esses passos, com identificação dos riscos de sofrimento psíquico dos trabalhadores, que ele desenvolveu seu trabalho de pesquisa na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Segundo ele, entre os carteiros, que correspondem à segunda categoria profissional com maior reconhecimento da sociedade por sua relevância, tem havido mais aposentadorias por invalidez que por idade. Um dos problemas apontados por ele na atualidade decorre do aumento do comércio eletrônico que, por sua vez, gerou aumento dos assaltos a carteiros.

Mapeamento dos riscos
De forma geral, Francisco Drumond elenca as violências no trabalho, como o assédio moral e sexual, a discriminação racial, a sobrecarga de trabalho e vivências traumáticas como causas do adoecimento dos trabalhadores. Algumas das cargas emocionais de trabalho que podem desencadear sintomas são o trabalho repetitivo, monótono, o ritmo intenso, pressão, controle excessivo e metas de desempenho elevadas, estresse prolongado, como na recepção de aeroportos e prontos-socorros, sobrecarga de tarefas, trabalho penoso ou degradante, convívio cotidiano com a morte, isolamento ou vulnerabilidade social.

Segundo o “Relatório sobre a saúde no mundo 2001: Saúde mental - nova concepção, nova esperança” da Organização Mundial de Saúde (OMS), os transtornos mentais menores acometem cerca de 30% dos trabalhadores ocupados e os transtornos mentais graves cerca de 5 a 10%. No Brasil, esse percentual de trabalhadores com sofrimento psíquico varia em torno de 35%, de acordo com Drumond. “O não reconhecimento do trabalho adoece o trabalhador, o que é agravado pela solidão, quando não há espaço de escuta e fala dentro das empresas. É preciso muita mobilização sindical como estratégia que poderia minimizar o sofrimento”, apontou o psiquiatra.

Procuradora Simone Rezende, coordenadora do FSSHT-MS

A procuradora do trabalho Simone Rezende, coordenadora do Fórum de Saúde, Segurança e Higiene no Trabalho, ressaltou que os problemas de saúde mental ainda são “invisíveis” para a sociedade, embora sejam mais danosos que outros agravos à saúde e reforçou a importância desse diagnóstico e prevenção. Uma das ações ajuizadas pelo Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso do Sul, com relação ao meio ambiente de trabalho, aponta riscos para a segurança e saúde dos maquinistas, expostos a difíceis rotinas de trabalho.

Lançamento do livro

Após os debates, Francisco Drummond lançou o livro “Saúde e trabalho nos Correios”, resultado de seu trabalho de pesquisa realizado para o Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios Telégrafos e Similares de São Paulo, Grande São Paulo e zona postal de Sorocaba.

Fonte: Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso do Sul
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